Here be dragons

Talvez já esteja na hora de responsabilizar criminalmente o governo do estado do RS

Na figura do atual governador, o senhor Eduardo Leite, o governo do estado do Rio Grande do Sul age lentamente e de maneira inepta no crime ambiental que acomete Porto Alegre, Vale do Taquari, Vale dos Sinos e a regisão da serra.

Crime, porque tragédias não podem ser evitadas.

As pessoas que utilizam os dois argumentos mais canalhas (que não devemos procurar culpados e que o que ocorre no RS é uma tragédia) não levam em conta, por incapacidade, desconhecimento ou desonestidade, que essas enchentes são resultado direto da política de austeridade neoliberal engendrada pelo governo Temer em 2016 (no famoso regime de recuperação fiscal) e acentuada pelos governos do Satori (aka Sartonaro, ℗MDB) e do Eduardo Leite (aka Bolsonaro com punho de seda, PSDB). Ambos são seguidores da cartilha neoliberal de austeridade fiscal, sucateamento de serviços essenciais e concenssão de setores públicos para empresas privadas (usualmente estatais internacionais).

Foram dias a fio até que o governo do estado e a prefeitura municipal fizessem alguma coisa. Quando o estado conatabilizava 15 mortes e uma centena de avisos da Metsul e do INPE, é que vimos a cara do governador, emulando um William Bonner, nas redes sociais.

É importante lembrar que, além de toda essa incapacidade, o governador Eduardo Leite foi responsável pelo menso investimento da história na Defesa Civil do estado: R$50 mil. Isso mesmo, menos que um JK no bairro Rubem Berta para o estado inteiro.

Mais alguns dias e a cheia atingiu a capital, Porto Alegre, e então vimos o famigerado (como diria Guimarães Rosa) prefeito da cidade, de colete azul-e-laranja, na TV e no rádio (nesse somente o ouvimos) pedindo dinheiro e ajuda da população. O mesmo prefeito que no ajudou a estinguir o DEP, que pretende vender o DMAE, que demitiu 50% da força de trabalho (é bom lembrar que Sebastião Melo é parte da administração pública faz 12 anos, 8 anos como vice-prefeito e mais 4 anos como prefeito) e que, no dia 16 de janeiro de 2024, pediu motosserras às pessoas da cidade (porque a defesa civil não tinha) e que, ato contínuo, jogou no time da chuva esse tempo todo [1].

Homicidio doloso

Eduardo Leite, Sartori, Marchezan Júnior e Sebastião Melo são culpados diretos pelo crime de homicidio doloso. Eles tiveram a intenção de fazer o que fizeram. Eles sabiam do risco humano que estava envolvido quando venderam sucatearam e ignoraram os avisos. Eles são pagos e eleitos para cuidar do estado e da cidade. Eles não fizeram isso. Se uma pessoa pobre mata alguém por deliberada inoperância diante dos fatos, ela é indiciada no crime de homicidio doloso (com intenção), porque esses quatro governantes não são também?

Já passou da hora de alguém - deputados, vereadores, Ministério Público ou sociedade civil - simplesmente abrir processo criminal contra esses quatro administradores públicos. Cada uma das mais de cem mortes é resultado direto da ação ou omissão desses quatro, principalmente.


[1] é bom lembrar que o Sebastião Melo ainda foi o prefeito responsável por não investir nenhum real sequer na defesa civil, por não realizar nenhuma manutenção no sistema anticheias de Porto Alegre (mesmo depois das cheias de 2023) e por protagonizar um espetáculo dantesco na evacuação da cidade [2].

[2] Sebastião Melo, por meio da Defesa Civil, ordenou no domingo (dia 5/5) que uma porção do bairro Sarandi (zona norte) fosse evacuada para o Teatro Renascença, distrante 12km do Sarandi, sem nenhum tipo de apoio para se locomover em uma cidade inundada e sob iminente colapso. Na segunda-feira, dia 6/5, ele ordenou, por meio da Defesa Civil, que a bomba da casa de máquinas da região dos bairros Menino Deus e Cidade Baixa, onde se encontravam os evacuados do bairro Sarandi, fosse desligada por "medida de segurança" sem avisar ninguém. Os moradores da regisão, os socorristas, os evacuados/refugiados e os voluntários foram pegos de surpresa com a cheia repentina das ruas. O abrigo onde estavam as pessoas foi inundado em tempo recordo e o gerador, sob água, corria risco de explosão. As pessoas foram re-evacuadas para um local mais distante, caminhando entre a água suja da enchente as ruas escuras de uma cidade sob o caos climático. Sebastião Melo joga no time da chuva, como disse um amigo meu.

Ainda, no domingo de tarde, esse mesmo Sebastião Melo pediu que as pessoas migrassem ao litoral norte, uma vez que Porto Alegre estava sob ameaça do colapso total (água, esgoto e energia elétrica) ignorando que o litoral norte receberá 200mm de chuva no final de semana seguinte (11 e 12 de maio).


É sempre bom ler sobre esse fiasco neoliberal em vários locais:

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2024/05/03/enchente-porto-alegre-1941

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2024/05/07/responsabilidade-governos-tragedia-rio-grande-do-sul

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2024/05/06/tragedia-gaucha-o-poder-publico-outra-vez-apenas-reagindo

https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2024/05/05/temporais-no-rs-veja-cronologia-de-desastre.ghtml